Entre os dias 15 e 21 junho, o Macunaíma realizou uma abertura de processo virtual, intitulada: “Étude no Audiovisual”. Desde o início do isolamento em decorrência da pandemia causada pela Covid-19, a equipe da escola, direção, coordenação e professores, decidiu, coletivamente, por colaborar com o afastamento social e, ao mesmo tempo, manter as aulas em outro formato. 

Focalizando o processo de aprendizagem de nossos alunos e alunas, adaptamos todo o planejamento pedagógico do Macu, a fim de que esta transposição fizesse sentido e, assim, desse continuidade ao desenvolvimento das capacidades e habilidades de nosso corpo docente, ou seja, que lhes proporcionasse novos conhecimentos. 

Este processo, na verdade, se configurou como de ensino e aprendizagem, pois acreditamos ter ensinado bastante, mas também aprendido muito. Horas de reuniões marcaram nosso semestre, bem como a busca por estratégias que estimulassem criativamente nossos alunos e alunas em seu ambiente doméstico. Foi desafiador para todos e todas, mas reconfortante ao final. 

O frio na barriga de uma estreia se fez sentir a cada nova aula, e muitas vezes o medo tomou conta de nós. Porém, a confiança e entrega de nossos alunos e alunas nos fez fortes. Fortes para continuar e resistir! Eles foram, sem dúvida, a razão de todo o esforço empreendido, bem como a motivação para continuarmos firmes!

A ideia da partilha 

Já relativamente adaptados à plataforma por meio da qual nossas aulas estão acontecendo, ainda sentíamos falta de algo. E este algo era a troca, a conversa nos corredores do Macu, na cantina e nos bebedores enquanto se enchia uma garrafa e outra de água. Muitas vezes, encontros furtivos, mas que nos faziam sentir vivos, pelo mínimo que fosse, contato visual.

“Fechados” em nossas salas virtuais, sem estabelecer relação com outras turmas, sentíamos falta do ambiente escolar. Era a necessidade de partilhar nossas experimentações e, assim, aprender com o outro e lhes apresentar novas possibilidades. Por isso, decidimos realizar uma abertura de processo virtual. 

Todas as turmas, de um mesmo período, tiveram a oportunidade de se reencontrar, rever seus colegas ou mesmo conhecer pessoas novas. Nossos alunos e alunas puderam apresentar suas investigações e assim sentir a presença de seus pares em seus processos. 

Esta partilha, no entanto, não teve por objetivo a apresentação de algo acabado, mas de études desenvolvidos ao longo do semestre. Sua intenção era reviver, em nosso corpo discente e também docente, aquele brilho no olhar que só a expectativa da presença do outro é capaz de estimular. 

A experiência foi, sem dúvida, vigorante para todos e todas. Neste sentido, muitos foram os depoimentos de nossos alunos e alunas sobre o que este acontecimento representou em suas vidas teatrais. Mas, como não seria possível registramos todos eles aqui, reproduzimos um relato que acreditamos bastante representativo dos demais. Assim, segue abaixo as impressões da aluna Mariana Vieira sobre este encontro. Ela, que hoje se encontra no PA4, está no Macu desde o Curso Infantil. 

A abertura de processo foi uma experiência fascinante e essencial, tendo em vista, principalmente, este período delicado encarado por todos nós. Foi um momento de união, de compartilhamento de ideias, trabalhos, opiniões e principalmente, sensações: era impossível disfarçar o frio na barriga da estreia, como se fossemos mesmo apresentar no palco. A arte, segundo Nietzsche, existe para que a realidade não nos destrua, e este processo foi a comprovação disso, especialmente para mim: deixei de lado tudo aquilo que me acorrentava, e finalmente me permiti sentir, ali, a liberdade, a paz, a sinceridade,  e a reciprocidade que há tanto tempo não sentia. Vibrávamos na mesma frequência. A sinergia daquele momento foi inexplicável, assim como a vontade e a paixão envolvida no que estávamos fazendo. Vivemos, definitivamente, o “aqui, agora” de forma intensa. 

Ser ator é coletivo, é acolher e sonhar; é tirar aprendizado de todo e qualquer processo; é romper barreiras, é querer que a arte transcenda de si para todos. 

Por fim, a abertura de processo foi uma forma de comprovar que, mesmo distantes fisicamente, estamos juntos de alma, de coração. 

A arte salva!

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