No dia 23 de junho, o Centro Latino Americano de Pesquisa Stanislávski (CLAPS) realizou mais uma live internacional, desta vez, uma masterclass com Ilya Bocharnikovs e Serguei Zemtsov, que apresentaram os caminhos do texto dramático à construção do espetáculo por meio do Método de Análise Ativa, a partir da obra As Três Irmãs, de Anton Tchékhov. Esta foi a segunda live internacional promovida pelo CLAPS, sendo que a primeira, intitulada Revelando o Último Stanislávski, foi realizada em maio e também contou com a participação de Zemtsov. 

Ilya Bocharnikovs e Serguei Zemtsov, diretores-pedagogos da Escola de Arte Dramática do Teatro de Arte de Moscou (TAM), começaram definindo alguns elementos do Sistema Stanislávski para a Análise Ativa da obra. Estratégia didática que Zemtov já havia utilizado em sua live, para que todos os participantes adquirissem um vocabulário conceitual comum. 

A primeira definição apresentada foi a de Análise Ativa, que se configura como um exame mental e, ao mesmo tempo, corporal, uma análise do texto realizada na e pela ação. O próximo elemento a ser esclarecido foi o Superobjetivo ou a Supertarefa, ideia que se tem de uma peça em relação ao momento histórico de sua montagem, ou seja, o que se quer dizer com ela. 

Os diretores-pedagogos ainda comentaram sobre um elemento stanislavskiano poucas vezes citado: a Supersupertarefa, que se desenha a partir de uma imersão no universo do autor, da descoberta dos valores humanos impregnados em suas obras. E, logo após estas e mais algumas outras definições essenciais para o posterior trabalho, teve início a análise da peça propriamente dita e o diálogo entre os presentes. 

Por que de Anton Tchékhov?

Entre nós, as obras de Anton Tchékhov são bastante conhecidas pela não-comunicação e pela renúncia ao presente (vida na lembrança ou na utopia), um reflexo do contexto russo do fim do século XIX. Nesta mesma esteira, Zemtsov e Bocharnikovs destacaram a frustração do sonho não realizado como um dos traços marcantes de As Três Irmãs, obra escolhido para a análise.

Porém, os diretores-pedagogos explicaram que a escolha por Anton Tchékhov teve como motivação, acima de tudo, o feliz encontro entre as obras do dramaturgo e a direção de Stanislávski. Deste encontro, nasceu o que eles chamaram “novo drama”. Nas peças de Tchékhov, como eles esclareceram, não se faz claro o que acontece entre as personagens, a não ser por meio de uma análise profunda, como a empreendida por Stanislávski em seus processos de criação.  

Eles citaram três aspectos conflitantes presentes nas obras do dramaturgo: o sentido das palavras do texto, a ação interna das personagens e suas ações físicas. Deste modo, elas, muitas vezes, expressam querer algo, desejando verdadeiramente outra coisa, enquanto se comportam de uma maneira diferente das demais. E é a partir da percepção destas três diferentes instâncias que se estabelece o conflito das peças de Tchékhov. Esta foi uma descoberta de Stanislávski, e dela nasceu o “novo drama”. 

Assim, a maneira como estes aspectos e suas relações são desenvolvidos está intimamente ligada à visão do diretor e dos atores por meio do Método de Análise Ativa. De acordo com os diretor-pedagogos, é na forma de conexão entre eles que reside a particularidade de cada espetáculo de uma obra de Tchékhov. Para Ilya Bocharnikovs, por exemplo, é sempre importante investigar a paixão entre as personagens, tal como foi analisada a primeira cena do segundo ato de As Três Irmãs, a partir da relação entre Natasha e Andrey. 

Para ter acesso à análise completa, que ainda teve a medição da professora e mestra Simone Shuba e a participação de Elena Vássina, professora do curso das Letras Russas da USP,  é só acessar: https://www.facebook.com/ClapsStanislavski/videos/572282626766629.

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