No dia 31 de julho de 2020, a equipe do Macunaíma, professores, coordenação e direção, se reunia para planejar um novo semestre letivo. Em decorrência do estado atual de coisas, este encontro foi realizado de modo remoto. E, diferentemente dos demais planejamentos, não teve a proximidade do abraço, do olho no olho, mas nem por isso, aconteceu com menos expectativas na projeção do novo, de um novo semestre e, quem sabe, de um novo momento para todos e todas.  

O que se pensava que duraria uma ou duas semanas foi prolongado no tempo e mudou realidades, nos obrigando a repensar-nos e a repensar nossa profissão como artistas e diretores-pedagogos. A janela de nossas casas tornou-se a moldura pela qual vimos a vida passar. Muito silêncio e vazio no início. Silêncios e vazios que provocaram sonhos de futuro, preenchendo, dia a dia, o isolamento e nossa janela. 

Neste sentido, um ato simbólico marcou este reinício: professores e professoras foram convidados a expressar, por meio de suas janelas, o significado da arte teatral nos tempos atuais. Muitas foram as formas de expressão, mas todas procuravam comunicar, a sua maneira, que o teatro e a arte resistem, a despeito de todas as adversidades. Este ato ainda registrou, para que nunca nos esqueçamos, a nossa força e a nossa capacidade de reinvenção, que são também do teatro. 

Diálogo provocativo 

Deste encontro de planejamento, também fez parte uma conversa com a professora doutora Maria Ignez Mena Barreto. Maria Ignez, que gentilmente partilhou suas experiências e conhecimentos com a equipe do Macu, é especialista em Língua e Literatura Francesas, formada em Linguística pela Universidade de São Paulo, doutora em Literatura Francesa pela Universidade de Paris, pós-doutora em Literatura Francesa pela USP, além de autora de vários estudos nas áreas de Literatura, Artes Visuais e de Arquitetura publicados em revistas francesas e brasileiras.

O tema de sua fala foi: Imagem e cultura visual em tempos de crise – Em que medida a ruptura de paradigma na passagem da Idade Média aos Tempos Modernos pode nos ajudar a pensar a crise da representação nos tempos atuais? E, entre muitos paralelos, informações e referências audiovisuais, ela fez a seguinte provocação: 

“O que sobra do teatro quando se tira o direito à presença e se impõem limitações de contato com o corpo e com o espaço?” 

A partir de tal questionamento, em um terceiro momento deste encontro, a equipe do Macu se pôs a pensar no reinício das aulas, que ainda se mantém no formato online. Em cada um, esta provocação ecoou de forma diversa, mas igualmente potente. E como um disparador de reflexão e criação, ela foi reformulada por cada professor e professora, a fim de que também chegasse aos alunos e alunas. 

Muitas ainda são as incertezas, mas algo parece certo: estamos, como nunca, mais ativos. E temos algo muito importante para enfrentar estes tempos, ou melhor, uma arma muito poderosa: a criatividade. Por meio dela, resistimos, reinventado práticas, realidades, mundos, para que, dentro em breve, os teatros e nossa escola possam estar vivos de novo. 

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