Frente ao momento que estamos vivendo, em que a pandemia provocada pelo Covid-19 nos impõe certos cuidados e, com isso, algumas restrições, a equipe do Macu se viu, primeiramente, diante de um impasse: suspender as aulas para contribuir com o isolamento social e, ao mesmo tempo, manter a chama do teatro acesa em cada um de nossos alunos, a fim de privilegiar a esperança na construção de um mundo novo, um dos princípios da arte teatral. 

E todos, professores, coordenação e direção do Macunaíma, encampamos a missão de manter a conexão com nossos alunos e dar continuidade às formas de investigação teatral. Muitas foram as reuniões para que as diretrizes metodológicas fossem reorientadas para uma forma de ensino não presencial, já que o teatro é, por excelência, a arte do encontro. Mas encontramos no próprio Stanislávski, que é a base de toda a nossa proposta pedagógica, a chave para isso: o trabalho do ator sobre si mesmo

O trabalho do ator sobre si mesmo

Stanislávski, em seus últimos anos de vida e pesquisa, nutriu a ideia de que a via mais potente para o desenvolvimento da arte do ator era “a partir de si próprio”. Só assim, acreditava o mestre russo, se poderia alcançar uma criação autêntica e afastada, portanto, da atuação baseada em clichês. 

O que ficou conhecido como “Novo Método” visava à busca por justificativas internas, no próprio ator, para as ações externas. Não mais se proponha uma relação de submissão às coordenadas do autor teatral, o dramaturgo, e nem às demonstrações do diretor, no sentido do “como deve ser feito”. 

Objetivava-se, desse modo, uma investigação pautada nas Circunstâncias Propostas do papel extraídas do texto dramatúrgico, mas não, necessariamente, nas rubricas indicativas, muitas vezes, de sentimentos e emoções.  

Neste caso, o estudo se dá por meios concretos: a ação! Porém, não a ação mimética, e sim preenchida de impulsos humanos interiores. O resultado desta vivência acaba, assim, por ser análogo ou familiar ao papel, ainda que particularizado, de acordo com as memórias e experiências vivas de cada ator ou atriz. 

Este, que foi um caminho inovador de descoberta para Stanislávski, é agora, mais do que em qualquer outro momento, a base metodológica para o nosso programa de ensino e aprendizado online. Ele tem nos auxiliado, como o pensamento de todos os grandes mestres, na criação de procedimentos práticos que mobilizem nossos alunos a pesquisarem a si próprios.  

Dessa forma, estamos dando continuidade às explorações realizadas presencialmente com um foco ainda mais individualizado, que viabilize ao aluno trabalhar no “isolamento” de sua casa a conexão consigo mesmo e com o mundo, por meio das mais variadas obras e autores. Acreditamos que esta é a melhor forma de nos reinventarmos e reinventarmos o mundo em que vivemos, para que dias melhores venham. Ou como falou Luciano Castiel, diretor geral do Teatro Escola Macunaíma:

“Neste momento, em que a apreensão toma conta de todos e todas por conta da propagação do corona vírus, é normal que muitos de nós tenhamos medo. Mas também é o momento em que nos é chamado o nosso lado mais humano. É também o momento de se reinventar, de se reinventar a todos nós. E a história mostra que ao longo de 47 anos o DNA do Macunaíma sempre foi a união, a alegria, a humanidade, a criatividade, a força e a coragem diante de todas as adversidades. E assim vai continuar sendo por muito mais tempo!”

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