Referência no teatro, Constantin Stanislávski foi o responsável pela elaboração do primeiro sistema de atuação mundial. Por meio de estudos durante os séculos 19 e 20, o ator, escritor e diretor russo introduziu o conceito de que as performances deveriam se basear em emoções e identificações reais com os personagens.

Suas ideias se disseminaram depois de fundar o Teatro de Arte de Moscou (TAM), em 1898, junto ao diretor e pedagogo Vladímir Ivânovitch Niemiróvitch-Dântchenco. O chamado “Sistema Stanislávski”, então, começou a ser aplicado em diversas peças teatrais e explicado em livros. Em 1905, durante uma excursão do TAM, tornou-se conhecido em outros países além da Rússia, como na França, Alemanha e Estados Unidos.

Ainda hoje, 80 anos depois da morte de Stanislávski, o sucesso do sistema permite que profissionais e amantes do teatro do mundo inteiro continuem a estudar, utilizar e desenvolvê-lo. No Brasil, o estudo chegou de maneira indireta.

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“Flamínio Bollini, diretor de teatro italiano contratado pelo Teatro Brasileiro de Comédia, inovou a prática dos ensaios para a construção de personagens”, exemplifica Paco Abreu, professor da escola e diretor teatral. “Por lá passaram atores como Paulo Autran, Cacilda Becker, Sérgio Cardoso, Maria Della Costa e Cleyde Yáconis.”

Outras grandes referências de pedagogos stanislávskianos foram Augusto Boal e Eugenio Kusnet. Ambos buscaram práticas a partir dos ensinamentos do sistema e inspiraram uma geração de profissionais brasileiros.

“A perspectiva de Stanislávski deu a estes atores e criadores cênicos brasileiros um caminho de aprendizado ético, humano, artístico, coletivo e expressivo na jornada de se tornar ator de verdade”, diz.     

O Teatro Escola Macunaíma

Em 1972, surgiu o Teatro Escola Macunaíma, o primeiro do Brasil a oferecer o DRT (Delegacia Regional de Trabalho), documento que atesta a competência do profissional. Anos mais tarde, a instituição adotou o Sistema baseado no gênio russo. Com teoria e prática em diferentes disciplinas, a metodologia de Stanislávski é aplicada durante toda a jornada do aluno.

Por meio da experiência no Sistema de Stanislávski, o ator torna-se um artista emancipado, autônomo e livre”, explica André Haidamus, professor da instituição. “O ator que trabalha no sistema quer algo maior do que apenas representar um personagem e se tornar reconhecido porque representou muito bem o seu papel.”

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Simone Shuba, também professora do Teatro Escola Macunaíma, concorda com as vantagens da implementação dessa metodologia. “Uma pessoa formada por meio do sistema vai se tornar um ator-pesquisador com um olhar mais sensível, humano, para si e para o outro. Assim, vai ter um espírito de coletivo muito maior.”  

“Este processo possibilita a descoberta da arte em si, a percepção de que você é instrumento da experiência artística”, afirma Paco. “A educação do ator por meio do Sistema Stanislávski possibilita colocar-se em investigação, tanto de si mesmo, como dos personagens que você irá construir.”

Os alunos ou atores não são os únicos a serem impactados por esse estudo. Segundo Simone, os professores, diretores e pedagogos não têm papel de ditadores e, sim, de estimuladores da autonomia. Assim, a criação acaba partindo do ator.

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Stanislávski, portanto, transforma a arte teatral, fazendo com que seja possível olhar para além da técnica de atuação. Por meio de sua metodologia, o ator passa a ser visto como artista. Valoriza-se seu modo de pensar e o coloca em contato com a natureza e ser humano.

“Se antes o ator precisava apenas conhecer e treinar as técnicas e contar com a sorte de ter nascido com talento para executá-las, por meio do Sistema de Stanislávski ele poderá se desenvolver e descobrir-se em uma experiência que reconhece o ator como um ser humano em toda a beleza e complexidade de sua natureza”, conta André.

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