O Café Teatral, que completa doze anos e já marou história no Macu, recebeu Grace Passô e Lucienne Guedes em maio. Ao longo de sua existência, por ele passaram teatrólogos internacionais e artistas de significativa relevância no cenário brasileiro, para falar dos mais diferentes assuntos.  Por fim, o Café Teatral se configura como um potente espaço de troca e complementação da formação de nosso corpo discente.  

Como resultado, os encontros realizados presencialmente e sempre na última sexta-feira de cada mês tiveram que ser suspensos durante um curto período. Devido à pandemia causada pela COVID-19, adaptamos as aulas para o online, bem como algumas outras atividades, e agora chegou a vez do Café Teatral. Portanto, o encontro com Grace Passô e Lucienne Guedes marcou a retomada ou a reestreia desta nossa ação, realizada virtualmente.  

Grace Passô

Atriz, diretora e dramaturga, Grace Passô tem trilhado uma importante trajetória no teatro, no cinema e na televisão. Há que se destacar o fato de ela fazer parte do movimento de renovação da escrita teatral, enquanto uma mulher negra que representa milhões. Suas peças refletem assuntos político-sociais figurados formalmente de modo inovador. E já foram, inclusive, traduzidas para vários idiomas, o que só reforça o reconhecimento internacional de sua produção.

Algumas de suas peças são: Por Elise (2004), Amores surdos (2006) e Marcha Para Zenturo (2010). Por Elise é a primeira criação do grupo Espanca!, de Belo Horizonte, uma das mais criativas companhias de teatro brasileiro. A peça apresenta uma reflexão crítica acerca do comportamento do homem na sociedade. Já Amores surdos retrata um lar marcado pela ausência paterna, enquanto Marcha para Zenturo mergulha no universo da distopia, com uma ficção passada em 2441.

Lucienne Guedes

Ainda assim, além de se dedicar à prática teatral, como atriz, diretora e dramaturga, Lucienne Guedes é uma pesquisadora acadêmica. Ela se graduou em Teoria do Teatro pela Universidade de São Paulo, onde também realizou seus estudos de mestrado e doutorado. Além disso, ainda em âmbito acadêmico, mas agora como professora, ministrou aulas na USP, UNESP e UFOP. E, atualmente, é professora do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp.

Seus trabalhos como atriz incluem a fundação do Teatro da Vertigem, grupo com o qual realizou, entre outros, os espetáculos O Paraíso Perdido e Apocalipse 1,11. Teve três peças traduzidas para o inglês e montadas na Universidade de Indiana (EUA), pelo diretor Eric Heaps, como A Recusa da Flor (2006). As Siamesas ou Talvez Eu Desmaie No Front (2019) figura um golpe de estado e é um exemplo da atualidade crítica da dramaturga.  

O primeiro encontro online

Grace Passô e Lucienne Guedes foram provocadas pela seguinte questão: “Como criar e compor possibilidades de um material cênico na realidade do nosso momento?” No entanto, definitivamente, esta pergunta teve ainda um complemento: “…sem perder a capacidade de sonhar coletivamente?” O que posicionou as falas do encontro em relação ao nosso tema de investigação do semestre – Dos Sonhos Que Nos Movem – Imaginar – Agir – Comunicar.

E foi a ideia de sonho e suas diferentes abordagens que acabaram pautando o bate-papo, que contou com a participação de mais de duzentas pessoas. Sobretudo pelo seu caráter onírico, ligado ao poder inconsciente de reelaborar nossas experiências e nos apresentar novos significados. Bem como se refletiu sobre sua concepção ligada aos desejos individuais e coletivos.

Da mesma forma, foram apontadas as determinações históricas de nossos sonhos, condicionados por quem somos, onde e quando vivemos. Enfim, considerou Grace Passô que “é fácil sonhar no Brasil”. Em um país tão desigual como o nosso, sonhar talvez seja a única força que ainda mantém vivas algumas pessoas. O sonho, para Grace Passô, seria então uma espécie de “direito mínimo” que nos é ainda garantido.  

Sonhemos, portanto, reivindicando este nosso direito, com um novo país e, até mesmo, com um novo mundo! E tomemos o teatro como uma forma de concretizar nossos sonhos e (por que não?) intervir em nossa realidade. Só sonha quem está vivo, e nós, mais do que nunca, estamos vivos e atuantes! Portanto, continuemos sonhando e buscando formas de colocar em prática os nossos sonhos!

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