Ainda que virtualmente, começamos 2021 projetando um novo semestre, como todos os anos, na habitual Semana de Planejamento do Macu. Se, por agora, não convém nos abraçarmos, isso não significa que os encontros também nos foram tolhidos. Ainda que mediados pela tela do computador, estes continuaram não só a cultivar, como também a semear o afeto, a acolhida e o amor pelo teatro.

Os bons encontros, que nos mantiveram vivos e atuantes em 2020, também marcaram a retomada de nossas atividades. Pautadas pelo tema de investigação deste semestre – Dos Sonhos Que nos Movem – Imaginar – Agir – Comunicar, destacamos aqui entre as atividades realizadas, uma das palestras, sem dúvida inspiradora para nós, artistas e educadores.

 “A busca de um sentido para a formação em teatro”

A palestra sobre a qual agora comentamos foi proferida pelo grande mestre José Sergio Fonseca de Carvalho. Professor de Filosofia da Educação na Universidade de São Paulo, ele é autor do livro Educação, uma Herança Sem Testamento: Diálogos com o Pensamento de Hannah Arendt (Perspectiva, 2017), que aborda as ideias de Arendt sobre educação, liberdade e democracia.

Zé Sérgio, como é mais conhecido, partiu da diferenciação entre duas posturas:  uma que visa à construção de sentido e outra que tem como motivação uma finalidade, ou seja, a realização de um fim ou objetivo. No campo da educação, esta distinção se refere à criação de condições para uma real experiência de aprendizado e, portanto, se distancia de uma proposta puramente formativa.

“Qual o sentido que atribuímos à arte teatral e à formação em teatro?

A partir de tais colocações, ele lançou questões de suma importância para os fazedores e educadores de teatro. “Qual o sentido que atribuímos à arte teatral e à formação em teatro? Em nome do que e não para que ensinamos?” Com isso, ele levou todos a um intenso exercício filosófico, no sentido do pensamento e da análise.

Porém, o professor também não se furtou a dar pistas de como podemos entender o nosso papel enquanto artistas e educadores. Neste sentido, ele explicitou o fato de que o sentido não está nas coisas, mas na relação que estabelecemos com elas. E, por isso, há diferentes significados para o que se concebe como produção artística: levar o belo e o sublime, provocar, criticar etc.

Em intenso diálogo com o pensamento de Hanna Arendt, Zé Sérgio também chamou a atenção para a nossa responsabilidade de não só apresentar, mas atualizar o legado artístico e teatral no presente. Pois, se queremos construir um mundo novo, temos que cultivar este gosto em nossos aprendizes. E, uma das formas de se fazer isso, é despertando o amor pelo que já foi construído, enquanto humanidade, até aqui.

“Cabe a arte à criação de mundos ficcionais…”

Avançando um pouco mais em suas reflexões, Zé Sérgio expos o que para ele é uma das funções sociais do teatro. Na medida em que as narrativas nos constituem como seres humanos, cabe a arte à criação de mundos ficcionais para os quais se convida o outro (espectador, leitor) a habitar. E, para ele, esta é uma das estratégias que nos possibilita repensar o nosso próprio tempo.

Agora, em cada sala de aula, daremos início às nossas pesquisas, fomentados por estes bons encontros e provocados por suas falas e reflexões. Esperamos, nos colocar no caminho da perguntada deixa a nós por Zé Sérgio: “Como materializar o sonho de modo que o(s) outro(s) possa(m) ocupá-lo?”

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