O Desejo Pela Vida

Um novo tema de investigação do Macu

O novo tema de investigação do Macu, que irá orientar os projetos de pesquisa e criação do 2° semestre de 2021, é O Desejo Pela Vida– Olhar – Inspirar – Encantar – Caminhar. Impactados pelo efeito da pandemia, nossos últimos dois temas foram motivados pela necessidade de revermos nossas concepções e atitudes. E, por isso, nos levaram a debates e elaborações práticas bastante densas e reflexivas.  

Procuramos então agora fechar o ciclo aberto por O Despertar Para Uma Consciência Planetária, tema do 2º semestre de 2020, e Dos Sonhos Que Nos Movem, do 1º semestre de 2021.  Pois achamos importante, neste momento que se mantém assombroso, pararmos um pouco para olhar a vida e o que nela nos inspira, nos provoca encantamento e nos motiva a caminhar. 

Nossa inspiração

O ponto de partida para a proposição do tema veio da nossa inspiração pedagógica: Konstantin Stanislávski. Um recentíssimo documentário sobre o mestre, lançado em 2021 e produzido pelo Ministério da Cultura da Rússia, leva o título que escolhemos como tema para as nossas investigações: Stanislavsky. Lust for life (Stanislávski. O Desejo Pela Vida). Dirigido por Julia Bobkova e contando com participações como a de Nikita Mikhalkov, Oskaras Korsunovas e Meryl Streep, cada um expressa sua inesgotável admiração por Stanislávski.

Os vários depoimentos de importantes nomes do teatro russo e britânico revelam tamanha a influência de Stanislávski em seus trabalhos e, assim, evidenciam sua relevância no teatro moderno. Por meio desses relatos, revisita-se também o processo contínuo de pesquisa do próprio Stanislávski. Pois, ainda que de diferentes perspectivas, todos se voltam para o principal componente do fazer teatral stanislavskiano: o ser humano.

Problema certo

Além de uma inspiração, o documentário também é uma referência para os nossos processos cênicos. E, somado a ele, alguns outros livros, como O Trabalho do Ator – Diário de um Aluno, de Stanislávski, e o recém-lançado Stanislávski e o Trabalho do Ator Sobre Si Mesmo (Perspectiva/CLAPS, 2021), de Michele Almeida Zaltron. Esses materiais procuram alimentar nossos estudos e práticas, sob o ponto de vista do nosso tema: O Desejo Pela Vida– Olhar – Inspirar – Encantar – Caminhar.

A partir dos termos desse enunciado, estabelecemos uma questão para nos provocar: “Como desenvolver um olhar para a vida que inspire encantamento em nosso caminhar artístico-pedagógico?” Ao longo de nossa trajetória, sempre revisitamos essa pergunta, a fim de verificar qual caminho estamos trilhando.

No entanto, não temos a pretensão de respondê-la de um modo pragmático. E isso porque não vislumbramos um ponto fixo de chegada, mas esperamos poder despertar o encanto pela beleza da vida e, mais, da vida do espírito humano. Pretendemos estimular o desejo de aprender, pesquisar, criar, de viver o teatro! Como também de inspirar a alegria da descoberta e da expressão artística.

A Verdade

            Nossos temas sempre estabelecem uma conexão direta com um elemento do Sistema Stanislávski, sobre o qual nos debruçamos, não só em sala de aula, com os alunos e alunas, mas também no nosso processo de formação continuada enquanto educadores. E, neste semestre, nosso ponto focal é a Verdade.

Citando Stanislávski: “A criação deve conter alegria. Em que se encontra alegria? Antes de tudo, alegria está na Verdade. Tenho a convicção de que meu caminho é único, mas, justamente por ser verdadeiro, ele é muito longo”.

Não desejamos o que nos deixa tristes, agoniados ou angustiados. Pelo contrário, procuramos pelo que nos dá alegria, satisfação e prazer. E quando buscamos a arte, por meio do teatro, não estamos buscando outra coisa. Para Stanislávski, essa alegria, que deve estar contida na criação, “está na Verdade”.

A vida na arte e a arte na vida

Mas, que verdade é essa? Como nos diz Michele Almeida Zaltorn, “não é essa pequena verdade exterior, que conduz ao naturalismo, nem aquela verdade mutilada em cena”. Essa verdade, segundo a autora, “é a verdade elevada, artística e autenticamente orgânica da natureza, a verdade do próprio sentimento, a verdade da sensação”.

E o que é essa “verdade orgânica da natureza” senão a verdade da vida?  Com isso, mais uma vez retomamos a importância da relação entre arte e vida para Stanislávski. Em suas próprias palavras: “O segredo do meu método está claro. Não se trata de Ações Físicas em si, mas da verdade e da crença que essas ações nos ajudam a despertar e sentir.”

Por isso, cabe ainda nos perguntamos: O que nossas ações têm despertado em nós? O que nossas ações têm nos feito sentir? Esta pode ser uma forma desafiadora de olharmos a vida por meio da arte, como também de olharmos para a arte por meio da vida.